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EDITORIAL

Revista Canteiro - Ano 3 | Número 3 - Novembro de 2016

 

Um flanar editorial pela cidade antiga

      A Revista Canteiro é uma publicação anual de divulgação dos trabalhos produzidos entre a comunidade acadêmica do CERES acerca dos Estudos Urbanos. O terceiro número da Revista, que lançamos neste novembro de 2016, assim como os anteriores, é parte de uma proposta editorial pré-definida. Não obstante, ao recebermos os trabalhos enviados e iniciarmos o processo editorial, emergem temas condutores. No presente número, foram os centros tradicionais de cidades de origem colonial que tomaram conta das discussões, com destaque para as cidades de Rio de Janeiro, Ouro Preto e Laguna, em virtude de viagens de estudos realizadas por professores do curso de Arquitetura e Urbanismo no último ano.

        Por isso, adotamos como imagem-símbolo da publicação um cenário da cidade de Laguna, que contempla também um centro tradicional formado no contexto colonial, expressando as contradições, disputas e transformações que fazem parte destes lugares carregados de história.

       O Centro da cidade é um espaço de síntese do passado e do presente, uma paisagem formada pela contradição entre formas inertes (forças de inércia) e funções dinâmicas (SANTOS, 1959). Marcado por funções preponderantes, cada momento histórico deixa sua marca no espaço, criando e transformando a paisagem urbana - que é o resultado desta soma dialética das forças do tempo e do espaço, da relação dinâmica entre as funções e as formas.

       A paisagem atual da cidade é formada por elementos originários de períodos anteriores, mas, esta síntese do passado e do presente, das formas antigas e das funções atuais, não se dá de maneira “amigável”: há uma guerra de tendências diferentes, de forças de transformação e de resistência.

      Na imagem-capa da edição 2016 da Revista, nos chama a atenção a presença de edificações de diferentes períodos históricos e linguagens arquitetônicas. O que desejamos questionar é o que de uma imagem vista de cima não é possível perceber. Muitas destas edificações, mesmo diante de um forte discurso patrimonialista, encontram-se em estado de abandono.

     Se o capital abandona certas edificações quando lhe convém, aos olhos do urbanista, nenhuma edificação é ruína.

     Certa vez, o poeta Leminski afirmou a um jornal que "De todos os prédios, os que mais gosto são as ruínas. É a ruína que dá sentido à cidade”.

     Benjamin nos fala que “nenhum rosto é tão surrealista como a fisionomia autêntica de uma cidade” e conta que foram os próprios surrealistas os primeiros a perceber as “energias revolucionárias” que se revelam nas coisas antiquadas e a pensar “de que maneira essas coisas se relacionam com a Revolução”:

De que modo a miséria não apenas social, mas também a arquitetônica, a miséria dos interiores, as coisas escravizadas e escravizantes revertem em niilismo revolucionário - os videntes e visionários surrealistas foram os primeiros a percebe-lo. (Benjamim apud Bolle, 2000, p. 135).

     Sim, lançar o olhar para elementos "sombreados" pelo capital é um ato revolucionário. Ainda mais, acreditamos que negar o discurso de "decadência" dos centros tradicionais é, também, um ato revolucionário.

Neste sentido, nos últimos anos, percebemos um grande movimento social e popular (nem sempre) de retomada destas centralidades antigas como espaço de encontro, convivência, enfim, como espaços de sociabilidade entre as pessoas.

    Se lembrarmos ainda das incursões de Berman pela modernidade, chegamos a desconcertante contradição de que o movimento moderno do pós-guerra impulsionou uma onerosa renovação das estruturas urbanas cujo resultado foi a destruição do ambiente na qual os valores modernos podem ser realizados, criando uma situação paradoxal em que:

O corolário prático de tudo isso (que à primeira vista pode parecer paradoxal, mas na verdade faz pleno sentido) é que na nossa vida urbana, em benefício do moderno, precisamos preservar o velho e resistir ao novo. Com tal dialética, o modernismo assume uma nova complexidade e profundidade. (BERMAN, 1986, P. 301).

      Em uma passagem pelo Centro tradicional de Laguna, encontramos vários elementos desagradáveis para os acostumados aos assépticos espaços do lazer moderno: mendigos, moscas, pombos, sujeira. Ambulantes que gritam, crianças que choram, cachorros vira-lata machucados a procura de comida. Correria, barulho, poças de água em dias de chuva. Buzinas, sorrisos, xingamentos. Tudo isso é vida, e tudo isso é sim muito moderno.

Sejam bem vindos ao nosso canteiro!

 

Prof. Renata Rogowski Pozzo

Coordenadora do Conselho Editorial da Revista Canteiro

Laguna - SC

Novembro de 2016.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Milton. O Centro da Cidade de Salvador: um estudo de geografia urbana. Salvador: Publicações da Universidade da Bahia, 1959.

BOLLE, Willi. Fisiognomia da Metrópole Moderna: representações da história em Walter Benjamin. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

 

 

ENVIO DE TRABALHOS

 

O envio de trabalhos pode ser feito a qualquer tempo via e-mail com o assunto "ENVIO" e indicando a seção em que deseja publicar.

 

revistacanteiro@gmail.com


Aceitamos trabalhos de professores, extensionistas, pesquisadores e estudantes da UDESC e outras instituições.

 

CONTATO

 

Para entrar em contato envie um e-mail para:

 

revistacanteiro@gmail.com

 

SOBRE

A REVISTA CANTEIRO é um periódico eletrônico anual que tem como objetivo central a divulgação dos trabalhos acadêmicos produzidos nas disciplinas que envolvem estudos urbanos dos cursos da Universidade do Estado de Santa Catarina em Laguna (CERES - UDESC), estando aberta para receber quaisquer trabalhos que interajam com a escala da cidade.
O espaço da revista se constitui como um círculo de discussão a fim de contribuir com a qualificação coletiva e assegurar ao grupo de al...unos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia da Pesca da UDESC uma colaboração cada vez mais orgânica e abrangente. A Interpretamos como um “círculo de cultura”, utilizando da conceituação que Antônio Gramsci desenvolveu em seus cadernos sobre o papel dos intelectuais para a organização social. Neste sentido, a revista é um espaço unitário que visa contribuir para o trabalho dos pesquisadores individuais e grupos de pesquisa através da discussão e da crítica colegiada. A revista é um projeto contemplado pelo Edital PAEX 2015.

 

EQUIPE

CONSELHO EDITORIAL
O Conselho Editorial conta com membros do Corpo Docente e Discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UDESC e é responsável por dar um formato à terceira edição. Além disso, o conselho realiza a seleção e revisão dos trabalhos acadêmicos a serem publicados na revista.

 

COORDENAÇÃO

Profª. Renata Rogowski Pozzo

PROFESSORES COLABORADORES

Profª Adriana Fabre Dias

Profª Ana Carolina Vicenzi Franco

Profº Eduardo Nogueira Giovanni

ESTUDANTES COLABORADORES

Ana Clara Falk Dos Santos

Aline Maria Vitório
Gessica Aline Heinick

IMAGEM TEMA

Luíza Nunes Kaiser


 

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